Agroportal: 'ANP|WWF relembra que presidência portuguesa é oportunidade única para implementar estratégia europeia para a alimentação sustentável'

Agroportal: 'ANP|WWF relembra que presidência portuguesa é oportunidade única para implementar estratégia europeia para a alimentação sustentável'

  • Quinta-feira, 22 de Abril de 2021

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Lançada em 2020, a “Estratégia do Prado ao Prato” estabeleceu metas ambiciosas para assegurar que cada vez mais cidadãos europeus têm acesso a alimentos saudáveis, acessíveis e sustentáveis. A Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia (PPCUE), é uma oportunidade central para Portugal assumir a liderança neste processo e implementar efetivamente esta estratégia europeia.

O papel da nova Política Agrícola Comum (PAC) e a Política Comum das Pescas (PCP) são instrumentos fundamentais para apoiar a transição para sistemas alimentares sustentáveis, assegurando ao mesmo tempo uma vida digna aos agricultores, aos pescadores e às suas famílias. Foi sobre esta temática que se realizou no dia 21 de abril, o webinar “Desafios de uma agenda europeia para a Alimentação Sustentável”, organizado pela ANPlWWF, moderado pela jornalista do Expresso Carla Tomás, e que contou com Francisco Castro Rego, Presidente da ANP|WWF, Ana Gama, Coordenadora do projeto Eat4Change em Portugal, Francisco Guerreiro, Eurodeputado dos Verdes/ALE, Pedro Pena Bastos, Chef de cozinha e embaixador Eat4Change, Luís Mira, Diretor da CAP, Maria Machado, Generation Earth,  Tiago Luís, Food Policy Officer da ANP|WWF e Ângela Morgado, Diretora-executiva da ANP|WWF em Portugal.

Francisco Castro Rego, Presidente da ANP|WWF, deu o mote a este debate começando por referir que este é um tema que está “na ordem do dia, não só porque corresponde a um problema importante e que todos reconhecem, como também existem agora ferramentas como a Estratégia do Prado ao Prato e as discussões sobre a nova PAC, que tornam esta questão ainda mais oportuna para discussão”. Nos últimos anos, a ANPlWWF tem trabalhado, entre outros temas, as questões do consumo europeu e as suas consequências nefastas para a desflorestação nos trópicos, e também as questões sobre sistemas alimentares sustentáveis, realizando projetos que promovem uma maior conscientização sobre os impactos negativos do nosso consumo.

Ana Gama, coordenadora do projeto Eat4Change em Portugal, apresentou a iniciativa internacional, financiada pela União Europeia e que envolve 12 parceiros de países europeus e da América Latina. Segundo a coordenadora em Portugal “estamos a consumir mais do que o planeta consegue produzir e isto coloca-nos numa emergência global não só para a natureza mas também para a nossa saúde.”

A necessidade de promover a adoção de dietas sustentáveis marca o arranque deste projeto, cujo público-alvo são os jovens (na faixa etária dos 15-35 anos), mas procurando também onde se procurará também trabalhar em conjunto com empresas e autoridades para que sejam adotadas práticas de produção mais sustentáveis. O objetivo passa sobretudo por alertar para o papel que cada um de nós, e consequentemente as nossas escolhas individuais, podem ter na preservação do planeta e da nossa saúde.

Francisco Guerreiro, Eurodeputado dos Verdes/ALE começou por parabenizar a ANPlWWF pelo projeto Eat4Change, considerando que é fundamental apostar em campanhas de promoção sobre a importância da alimentação sustentável. Sobre as estratégias (do Prado ao Prato e Biodiversidade), estas ainda estão em debate no parlamento europeu, mas “são duas estratégias muito positivas e que encaminham o sistema alimentar para modos mais locais, sazonais, extensivos, biológicos e de produção e distribuição de alimentos. Isto é fundamental para combatermos os impactos das alterações climáticas num setor que é fundamental também para esta transição ecológica” lembrando que “cerca de 10% de emissões de gases com efeito estufa provêm do setor agrícola e dentro destes 10%, 70% advém do setor pecuário”. O eurodeputado acrescentou que ambas as estratégias foram condicionadas desde muito cedo, por alguns setores, que acabaram por influenciar os objetivos e metas das mesmas. Apesar do resultado positivo, Francisco Guerreiro reforça a ideia de que estas são apenas estratégias e não têm poder vinculativo ao contrário da PAC, o que obriga os estados-membros a criarem os seus próprios planos. Para os Verdes/ALE, deveria ser feita uma maior aposta na transição destes fundos para ajudar agricultores a adaptar a sua produção para culturas mais sustentáveis – o que atualmente não acontece, mostrando que a PAC não vai ao encontro destas estratégias europeias.

Para Luís Mira, Diretor da CAP, as questões da sustentabilidade são transversais a todos os setores da atividade e os “agricultores são verdadeiramente ambientalistas ativos desde que tenham informação e formação para isso”. No que diz respeito à PAC, esta é uma política central que beneficia todos os cidadãos europeus, já que impacta diretamente no preço a que os alimentos são vendidos e promove a segurança alimentar. Contudo, sublinhou que a decisão sobre o modo de produção pertence aos consumidores e não pode acontecer por imposição legal. Segundo Luís Mira, a digitalização da agricultura é também um fator crucial que marcará os próximos anos, a forma como produzimos alimentos e irá permitir uma “sustentabilidade a 100%” onde os recursos naturais estarão perfeitamente ajustados aos alimentos.

Francisco Guerreiro acrescentou ainda que o consumo de recursos hídricos não é muitas vezes incorporado no valor a que os alimentos chegam aos consumidores, o que é especialmente preocupante em países como Portugal onde existe escassez hídrica grave. Sobre este tópico, a ANPlWWF publicou recentemente o relatório “Impactos das Alterações Climáticas na Península Ibérica”.

Para Maria Machado, jovem que integra o Generation Earth, é essencial reforçar esta ideia de que o consumidor é uma peça central e que esta mudança começa nos cidadãos e que os mercados irão acompanhar esta tendência. No entanto, aponta algumas falhas na distribuição dos subsídios da PAC, já que “estes subsídios deviam estar a apoiar pequenos agricultores, agricultura familiar, agricultura biológica, para que estes tenham possibilidade de criar produções diversas e sem recurso a monoculturas, capazes de acompanhar a sazonalidade e adaptados ao clima”. Maria Machado falou também sobre os benefícios da agricultura de proximidade e circuitos curto-agroalimentares.

Já para Pedro Pena Bastos, Chef de cozinha e embaixador Eat4Change, é essencial apostar na promoção do consumo local, mas sobretudo na comunicação dos benefícios deste. Para Pedro Pena Bastos “enquanto cozinheiro considero que devemos ser nós os principais embaixadores a promover e a fazer a ligação entre o cliente e o produtor”.

Tiago Luís, Food Policy Officer da ANP|WWF, começou por discordar do que tinha vindo a ser dito ao longo do debate, referindo que “quem dita a tendência dos produtos que são disponibilizados nos supermercados são os mercados e não o próprio consumidor”, ancorando esta ideia em vários inquéritos e eurobarómetros que mostram que os cidadãos europeus têm vontade de alterar os seus hábitos de consumo, mas encontram inúmeras barreiras como o preço, falta de informação nos rótulos, etc. Sobre a ideia da digitalização da agricultura como solução para a sustentabilidade, Tiago Luís reforçou que apesar da agricultura de precisão ser muitas vezes apontada como solução para estes desafios, esta não poderá ser resposta única ou isolada e é necessário um vasto conjunto de soluções nomeadamente respeitando os princípios da agroecologia.

Coube a Ângela Morgado, Diretora-executiva da ANP|WWF, encerrar o debate, reforçando que

a reforma da PAC é muito importante e os consumidores esperam que esta transição para sistemas agrícolas mais sustentáveis seja efetivamente feita, “não apenas pela questão do ambiente mas também pelas pessoas e centralidade da discussão dos direitos humanos na lógica ambiental. E portanto, é muito importante que esta nova PAC seja mesmo um instrumento fundamental para esta transição, para ter impactos mais positivos sobre a biodiversidade”. A Diretora-executiva da ANP|WWF finalizou apelando à sociedade civil para que se envolva nestas questões e exija cada vez mais aos governantes, agricultores, empresas e todas as pessoas que contribuem para um planeta mais sustentável.

Comunicado enviado pela ANP|WWF.

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